I SEMINARIO DE REABILITAÇÃO PSICOMOTORA: Intervenção e Enquadramento Profissional

I SEMINARIO DE REABILITAÇÃO PSICOMOTORA: Intervenção e Enquadramento Profissional
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sábado, 20 de novembro de 2010

ACERCA DA PSICOMOTRICIDADE. . .

O que é a psicomotricidade?

“ A Psicomotricidade pode ser definida como o campo transdiciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistémicas entre o psiquismo e a motricidade. Baseada numa visão holística do ser humano, a psicomotricidade encara de forma integrada as funções cognitivas, sócio-emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras, promovendo a capacidade de ser e agir num contexto psicossocial.” Associação Portuguesa de Psicomotricidade (APP)


A psicomotricidade é encarada como uma ciência que estuda a conduta motora como expressão do amadurecimento e desenvolvimento da totalidade psicofísica do homem (Le Boulch apud Nasser, 2004 cit in CRUZ & SHIRAKAWA, 2006) utilizando como objecto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e as relações que estabelece com o meio, fazendo aquisições motoras, cognitivas e afectivas.
De acordo com o Ministério da Educação e do Desporto e Secretaria de Educação Especial apud Rezende et al (2003) cit in Cruz e Shirakawa (2006), psicomotricidade é a integração das funções motoras e mentais, sob o efeito do desenvolvimento do sistema nervoso, destacando assim as relações existentes entre a motricidade, a mente e a afectividade do indivíduo. O desenvolvimento psicomotor abrange o desenvolvimento funcional do corpo e das suas partes e encontra-se dividido em vários factores psicomotores. Fonseca (1995) cit in Cruz & Shirakawa (2006) apresenta sete factores - tonicidade, equilíbrio, lateralidade, noção corporal, estruturação espácio-temporal e praxias fina e global.
O trabalho em psicomotricidade tem como foco o movimento organizado e integrado em função das experiencias vividas pelos indivíduos, a acção do seu corpo em relação ao meio interno e externo, a sua individualidade, linguagem e processo de inclusão social. Segundo Alves (sd) cit in SILVA (2004), a psicomotricidade tem como principal propósito melhorar ou normalizar o comportamento geral do indivíduo, promovendo um trabalho constante sobre as condutas motoras, através das quais o indivíduo toma consciência do seu corpo, desenvolvendo o equilíbrio, controlando a coordenação global e fina e a respiração bem como a organização das noções espaciais e temporais.
Os psicomotricistas não usam o termo motricidade isoladamente pois a motricidade é indissociável da psique humana, sendo o termo motricidade mais utilizado pela área da educação física no âmbito da perspectiva do treino desportivo, ligado à coordenação motora como qualidade física, sendo analisado de forma diferente na perspectiva da Psicomotricidade (LUSSAC, 2008).
Assim, a psicomotricidade faz a abordagem clínica voltada para a globalidade do indivíduo, uma vez que, na sua concepção, a dinâmica aplicada será capaz de desenvolver o aspecto motor no momento da execução da actividade, o aspecto intelectual na tentativa de resolução do desafio proposto e o aspecto afectivo, nos sentimentos experimentados ao longo da actividade (SOUZA & BODOY, 2005). Esta metodologia de trabalho é justificada através do funcionamento do sistema nervoso, pois este é constituído por inúmeros constituintes que não interagem de um modo independente, já que existe relação de interdependência nas áreas (AUCOUTURIER et al., 1986 cit in SOUZA & BODOY, 2005).
O principal objectivo centra-se na adequação das condutas às necessidades do indivíduo, tornando a tarefa mais eficaz e satisfatória tanto para o profissional como para o participante.

A historicidade da Psicomotricidade
“A história do saber da psicomotricidade representa já um século de esforço de ação e de pensamento. A sua cientificidade na era da cibernética e da informática, vai-nos permitir certamente, ir mais longe da descrição das relações mútuas e recíprocas da convivência do corpo com o psíquico. Esta intimidade filogenética e ontogenética representam o triunfo evolutivo da espécie humana, um longo passado de vários milhões de anos de conquistas psicomotoras” (FONSECA, 1988, p. 99.)

             A história da psicomotricidade é indissociável da história do corpo sendo que ao longo desta história foram registadas perguntas: como explicar as emoções e as sensações do corpo e qual a relação entre corpo e alma; por que diferenciá-los? (BARTHES apud LEVIN, 2003 CIT IN FALCÃO & BARRETO, 2009)
O pioneirismo desta matéria centrou-se em Aristóteles para o qual o corpo é matéria moldada pela alma e esta é que põe o corpo em movimento. Estreava-se assim a linha de pensamento psicomotor quando analisou a função do ginasta para melhorar o desenvolvimento do espírito. Enunciava que o homem era formado por corpo e alma e valorizava o exercício físico, já que, para o mesmo, a ginástica servia para “dar graça, vigor e educar o corpo”.
No século XIX, com o desenvolvimento e as descobertas ao nível da neurofisiologia, constatou-se que existem diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja localizada claramente, sendo deste modo descobertos “distúrbios da actividade gestual, da actividade práxica”, sem que anatomicamente estejam circunscritos a uma área ou parte do sistema nervoso.
É desta aparente necessidade médica de explicar os fenómenos clínicos que não são corroborados anatomicamente que no ano de 1870 surge pela primeira vez o termo psicomotricidade. (Falcão & Barreto, 2009). No entanto as primeiras pesquisas que dão origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque totalmente neurológico. (CAMUS apud LEVIN, 2003 CIT IN FALCÃO & BARRETO, 2009).
É com Dupré, neurologista francês que, em 1907, que após um conjunto de pesquisas se define a síndrome da debilidade motora, composta por sincinesias (movimentos involuntários que acompanham uma acção), paratonias (incapacidade reduzir o tonos muscular voluntariamente) e inabilidades, sem que lhes sejam atribuídos danos ou lesão extrapiramidal. Dupré formulou psicomotricidade focalizando-se uma linha filosófica neurológica, associando o desenvolvimento da psicomotricidade com a inteligência e a afectividade. Segundo Levin (2003) a patologia cortical, a neurofisiologia e a neuropsiquiatria são os três meios aptos a alcançar o conceito de psicomotricidade. (Falcão & Barreto, 2009)
.           Henry Wallon, médico, psicólogo e pedagogo, foi provavelmente, o grande pioneiro da psicomotricidade, vista como campo científico. Segundo Fonseca (1988), este forneceu observações decisivas acerca do desenvolvimento neurológico do recém-nascido bem como da evolução psicomotora da criança. Wallon afirmava que o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo, sendo o movimento (acção), pensamento e linguagem unidades inseparáveis.
A componente do conhecimento, a consciência e o desenvolvimento geral da personalidade não podem ser isolados das emoções. Wallon realizou um importante trabalho sobre os aspectos psicofisiológicos da vida afectiva - a consciência corporal e a relação intrínseca do tónus, chamando a isto diálogo tónico, assinalando que as relações que estabelecemos e a actividade postural têm uma origem comum (FALCÃO & BARRETO, 2009). A partir da sua obra construiu-se uma nova técnica terapêutica que visa a reeducação das funções motora.
Em 1935, impulsionando pelas obras de Wallon, Edouard Guilman (1901-1983) inicia a prática psicomotora, que cria através de diferentes técnicas da neuropsicologia fundando a reeducação psicomotora com exercícios que tinham a finalidade de reeducar a actividade tónica, a actividade relacional e o controlo motor.
Em 1942, a junção dos conhecimentos de inúmeros psicólogos da Alemanha que estudaram os mecanismos da percepção, de Schultz e Jacobson que definiram os primeiros métodos de relaxação e dos psicopedagogos que estudaram o desenvolvimento sensório-motor da criança, como Clapariede, Montessori e Piaget proporcionaram saberes essenciais à evolução do conceito de psicomotricidade.
Piaget (1896-1980) foi o autor que mais estudou as relações entre a psicomotricidade e a percepção, aferindo assim que, desenvolvimento mental constrói-se de forma lenta e caracteriza-se por um equilibrio progressivo, do menor para o maior surgindo a inteligência de uma adaptação ao meio ambiente. (Falcão & Barreto, 2009).
As teorias de Ajuriaguerra, por volta de 1960, em ligação com as de Wallon e Piaget; influenciaram o trabalho de outros autores como: R. Diatkine, J. Buges, Jolivet, S. Leboaci, que reformularam o enfoque da psicomotricidade, valorizando em especial a relação, e as emoções e o movimento. A estes acresce a influencia de psicanalistas S. Freud, M. Klein, J. Lacan, W. Reich, P. Schilder, F. Dolto, Samí Alí, D. Winnicott, Manoni, entre outros.
Segundo Fonseca (1988), em 1947-1948 Ajuriaguerra e Datkine a história da psicomotricidade ao modificarem o conceito de debilidade motora. Ajuriaguerra, no seu Manual de Psiquiatria Infantil, reflecte claramente que os transtornos psicomotores “oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico”. Também nesta fase autores como J. Berges, R.Diatkine, B. Jolivet, C. Launay, S. Leboirei definem a psicomotricidade como “uma motricidade em relação”. (Falcão & Barreto, 2009).
Na década de 70 através de Le Boulch, surgem os primeiros trabalhos ao nível da educação psicomotora, que visavam ajudar a criança inadaptada a desenvolver suas potencialidades e ter acesso ao mundo escolar. Coadjuvando o mesmo aparecem os trabalhos de L. Pick, P. Vayer, André Lapierre, Bernard Auconturier, Defontaine, J. C. Coste abordavam que a educação psicomotora servia de ferramenta para auxiliara as crianças inadaptadas para potencializar as suas competências e disponibilizar-lhes o meio escolar. Com estas novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas adquirindo sua própria especificidade e autonomia.
Na década de oitenta Le Camus refere que os grandes pilares da psicomotricidade dos tempos modernos são: coordenação estático-dinamica e óculo-manual; organização espacial e temporal; estrutura do esquema corporal, afirmação da lateralidade e domínio tónico. Deste modo, Por volta do ano de 1986 surge uma nova definição para a psicomotricidade: “uma motricidade em relação”, o que no pensamento de Levin (1995) cit in FALCÃO & BARRETO, 2009 “é onde se opera uma passagem no enfoque do olhar do psicomotricista, não mais voltado ao plano motor, mas direccionado a um corpo em movimento”.
Os norte-americanos insistem sobre a concepção perceptivo-motora e o papel do desenvolvimento motor no desenvolvimento perceptivo. Destacados autores como Kephart, Cratty, Frostig e Barsch que aprofundaram essa mesma concepção. (Falcão & Barreto, 2009).

Em que consiste a Intervenção Psicomotora?

A intervenção em psicomotricidade assume-se como uma reeducação ou terapia de mediação corporal e expressiva, intervencionada pelo psicomotricista que tem como missão estudar e compensar a expressão motora inadequada ou inadaptada nas diversas situações estando estas normalmente inerentes a problemas de desenvolvimento e de maturação psicomotora, de comportamento, de aprendizagem e de âmbito psico-afectivo. (Associação Portuguesa de Psicomotricidade (APP). A intervenção em psicomotricidade educa e reeduca os distúrbios que se apresentam por meio de perturbações psicomotoras, debilidades psicomotoras, inabilidade, atrasos psicomotores, inibição psicomotora, diminuição, hiperactividade e retenção. (Alves, 2007)
            A Psicomotricidade incrementa-se numa abordagem clínica voltada à globalidade do indivíduo, (Souza & Bodoy, 2005). Le Boulch aponta três perspectivas distintas na intervenção psicomotora, uma aponta para a educação psicomotora, outra, para a reeducação psicomotora, e uma ultima referente á terapia psicomotora. Estas diferentes abordagens, referem-se, não só, a diferentes intervenções, mas também a diferentes formas de conceber a psicomotricidade. (Lussac, 2008).
           Corroborando a linha de pensamento de Le Boulch, Mello (2002,p.33) afirma: 
“Nos estudos dos pesquisadores recentes, são apontados três principais campos de actuação ou formas de abordagem da Psicomotricidade: 1. Reeducação Psicomotora; 2. Terapia Psicomotora; e 3. Educação Psicomotora. Embora em certos trabalhos esses três níveis de actuação cheguem a confundir-se, existem características próprias em cada um deles.” (Lussac, 2008).

Objectivos da Psicomotricidade

A psicomotricidade assenta em objectivos gerais com vista a compensar problemáticas situadas entre o psíquico e o somático intervindo através do corpo, atribuindo um significado simbólico ao mesmo em movimento. Permite garantir a harmonização tónica através do corpo utilizando para este facto acções sobre a postura, a atitude, o esquema corporal, e a descontracção neuro-muscular. Promove a movimentação funcional e expressiva focando-se na maneira de agir o corpo através da coordenação, dissociação e praxias, possibilitando a relação tónico-emocional com o técnico através da acção do corpo.(Associação Portuguesa de Psicomotricidade-APP).

População-Alvo

Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (2003), a população-alvo desta intervenção caracteriza-se essencialmente por:
“Crianças em fase de desenvolvimento; bebés de alto risco; crianças com dificuldades/atrasos no desenvolvimento global; pessoas portadoras de necessidades especiais: deficiências sensoriais, motoras, mentais e psíquicas; pessoas que apresentam distúrbios sensoriais, perceptivos, motores e relacionais em consequência de lesões neurológicas; família e a 3ª idade.” (Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, 2010).

Competências do Psicomotricista

Considera-se psicomotricista o profissional da área de saúde e da educação que pesquisa, ajuda, previne e cuida do indivíduo na aquisição, no desenvolvimento e nos distúrbios de integração psico-somática. Intervindo numa perspectiva de “Educação, Clínica (Reeducação, Terapia), Consultoria e Supervisão.” (Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, 2010).
As principais competências inerentes ao técnico de psicomotricidade centram-se sobretudo na capacidade de:

· “Avaliação e Diagnóstico do Perfil e Desenvolvimento Psicomotor;
· Domínio de Modelos e Técnicas de Habilitação e Reabilitação Psicomotora em Populações Especiais ou de risco;
· Prescrição, Planeamento, Avaliação, Implementação e Reavaliação de Programas de Psicomotricidade;
· Formação, Supervisão, e Orientação de outros técnicos, nos âmbitos anteriormente referidos;
· Consultadoria e organização de serviços vocacionados para a psicomotricidade;
· Proposta de adaptações envolvimentais (familiares ou escolares) susceptíveis de maximizarem as respostas reeducativas ou terapêuticas decorrentes da intervenção directa.” (Associação Portuguesa de Psicomotricidade-APP)

Quais os locais onde esta intervenção pode ocorrer?

 Segundo a APP, a nível da Saúde:
  • Hospitais Gerais (Serviços de Psiquiatria e de Pedopsiquiatria; Serviços de Pediatria / Consultas de Desenvolvimento e Saúde do Adolescente)
  • Centros de Saúde
  • Hospitais Psiquiátricos
  • Centros de Atendimento à Toxicodependência

A nível da educação:
  • Creches e Jardins de Infância
  • Escolas do Ensino Básico
  • Educação Especial: Estabelecimentos de Educação Especial e Centros de Apoio Psicopedagógico
A nível da segurança social:
  • Instituições Privadas de Solidariedade Social
  • Associações e Cooperativas de Acção Social
  • Lares de Acolhimento e Apoio á Infância e Juventude
  • Centros de Dia para Idosos
A nível da Justiça:
  • Institutos e Equipas de Reinserção Social

A nível das Estruturas Desportivas com Serviços de Reabilitação
  • Adaptação ao Meio Aquático
  • Equitação Terapêutica

Outros âmbitos
  • Clínicas Psicopedagógicas
  • Clínicas Geriátricas
  •  Apoio domiciliário

 
(retirada de http://www.appsicomotricidade.org/entrada.htm)




 
 
 

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